Fevereiro de 1.966: Um reluzente FNM D 11.000 trucado sobe a Serra das Araras com 22.000 kg de carga. Mauro, o motorista, sabe escrever seu nome, ler quase todas as placas da estrada e fazer contas mais simples, mas é bastante forte, e quase não sente dificuldade para manobrar o veículo, que não conta com direção hidráulica.
calor dentro da cabine é insuportável, passa dos 50ºC, para aliviar, Mauro segue com a porta aberta e quase todo o corpo do lado de fora. A velocidade mal chega a 10 km/h.
De bermuda, sem camisa, descalço e com a barba de mais de sete dias por fazer, Mauro sua em profusão.
Desde pequeno acompanhou seu pai nas viagens, e se tornou motorista sem ao menos cogitar seguir outra profissão.
Como empregado, têm dificuldades em manter a sua família em função do baixo salário, e muitas vezes, fica fora de casa por mais de 30 dias.
Como o preço do Diesel é irrisório, Mauro nunca se preocupou em saber qual o consumo do veículo que dirige, e seu patrão daria gargalhadas se alguém sugerisse que Mauro fosse premiado e recebesse treinamento.
Fevereiro de 2.016: Um Iveco Stralis Hi-Way 480 com menos de5.000 quilômetrossobe a Serra das Araras atrelado a uma carreta de 3 eixos, sua carga é de 24.500 kg, ligeiramente inferior à capacidade do veículo.
Roberto, o motorista, concluiu o ensino médio, fez uma série de cursos e participou de vários treinamentos.
Com as janelas fechadas e longe do barulho, Roberto mantém a temperatura interna da cabine em agradáveis 22º C, e seu bonito uniforme está impecável.
Graças ao moderno câmbio automatizado, a velocidade segue constante em 40 km/h, o computador de bordo indica que o consumo médio é de 2,45 Km/L desde o último abastecimento e o instantâneo é de 1,4 Km/L.
Roberto é o único motorista em sua família, e decidiu seguir a profissão depois de ter entrado em uma empresa de transportes como ajudante, e de ter sido encorajado pelo seu antigo chefe. A empresa em que o Roberto trabalha investe em treinamentos e forma seus motoristas.
Apesar da saudade, Roberto consegue manter sua família, que conta inclusive com a proteção de um convênio médico que a empresa oferece, e também cesta básica.
Roberto foi premiado nos últimos três meses por ter conseguido obter o consumo médio proposto pela empresa.
Os 50 anos que separam Mauro e Roberto mudaram profundamente o mundo, e consequentemente, a profissão de motorista de caminhão.
Veículos antes inimagináveis para os padrões brasileiros estão à disposição dos transportadores, e que por sua vez, exigem motoristas treinados e preparados para obter o máximo que estes veículos oferecem.
E você motorista, você se parece mais com o Mauro ou com o Roberto?
E você empresário, no seu quadro de motoristas, existem mais Mauros ou Robertos?
Se a resposta for Mauro, cuidado, vocês, empresários e motoristas, são espécies em extinção.
Os salários oferecidos a estes profissionais nunca foram tão altos, e continuarão subindo, não só em função da falta de mão de obra especializada, mas também em função das atuais exigências.
Espera-se que os motoristas sejam verdadeiros Gerentes de Unidades Móveis, conheçam informática, direção econômica e defensiva, entendam as necessidades da empresa em que trabalham e dos clientes, e consigam fazer com que o negócio seja economicamente viável.
Eles são as próprias empresas de transporte perante os clientes e também frente à opinião pública.
Espera-se também que as empresas ajudem a formar seus motoristas, que invistam em treinamentos, na renovação da frota e na imagem da empresa, demonstrando estarem preocupadas com o meio ambiente e com a responsabilidade social.
A figura barbuda, de braços fortes e quase analfabeta positivamente está aposentada, assim como o empresário que acredita que motorista não precisa de treinamento, de bons equipamentos, e, sobretudo, de reconhecimento.
Fonte: Mundo Truck
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