domingo, 27 de dezembro de 2015

Peças remanufaturadas dão fôlego ao setor

Montadoras e fornecedores de componentes originais para a indústria automotiva contam suas experiências com os produtos remanufaturados. Todas são unânimes em dizer que ainda há falta de informações quanto ao conceito de que um componente remanufaturado é como um original, com custo mais abaixo.

Quem conhece os benefícios não tem dúvidas sobre o custo de 50% a 60% mais barato em relação a um produto totalmente novo, visto que a garantia é a mesma, geralmente de 12 meses. Outra vantagem para quem opta pela base de troca é imobilizar o mínimo possível o tempo do veículo parado enquanto o serviço é feito.

Para os fabricantes os itens remanufaturados são ferramentas importantes do pós-venda para fidelizar clientes com peças mais baratas. Vejam as experiências de sete empresas que operam nesse mercado.

Mercedes-Benz

Entre as empresas que oferecem produtos remanufaturados, a Mercedes-Benz é a única no país com uma unidade fabril própria para esse fim, a Renov, localizada na cidade de Campinas (SP). A operação começou em 2004, baseada na experiência da matriz alemã, que vem desde os anos 1950. Em dez anos de Brasil já foram comercializadas 100 mil unidades reindustrializadas, entre as quais 37 mil motores, 13 mil caixas de câmbio e 25 mil embreagens entre outros componentes.

A montadora constatou que seria estratégica a implantação desse serviço de pós-venda no país, como forma de oferecer melhor custo-benefício ao cliente e fidelizá-lo durante toda a vida do veículo. Em geral, com o tempo, o cliente tende a se afastar da concessionária que vendeu seu caminhão, ônibus ou comercial leve.“O Renov assegura uma estratégia de médio e longo prazos e apura muito o relacionamento entre a fábrica e o cliente”, diz Marcelo Zaninelli, gerente de pós-vendas da marca.

O conceito foi se aprimorando com o tempo e adicionando outras linhas de produtos, expandindo para os atuais 220. “Além do trem de força em si, o ‘core’, temos motores de partida, turbos, motores mecânicos e eletrônicos, platôs, discos, diferenciais, unidades injetoras, e alternadores e outros. Um dos mais importantes argumentos dos produtos remanufaturados é explicar ao cliente que a remanufatura é diferente de recondicionamento.

Para Zaninelli, a melhor comparação para eliminar as dúvidas é a seguinte: “uma peça remanufaturada é aquela que é refeita pelo próprio fabricante. Um motor, por exemplo, passa por todo o processo de produção igual a um novo e todos os componentes que sofreram desgastes serão substituídos. É como se feito tudo de novo. Já o recondicionado é reparado por terceiros, em geral por retífica”, detalha.

Volvo

Reinaldo Serafim, gerente comercial de pós-venda da Volvo, afirma que a remanufatura é uma prática de mercado que tende a crescer. “Só se consegue fazer remanufaturados quando se tem um grande volume, uma logística bem estruturada e um processo fabril destinado a esse fim. O tamanho da frota de nossa marca no Brasil justifica esse serviço”.

E a remanufatura não é coisa de país de terceiro mundo. É parte da política mundial da Volvo. A área de peças e componentes genuínos representa de 25% a 30% das vendas aqui no país. Segundo Serafim, para lançar um produto remanufaturado é preciso de pelo menos um ano de estudos e planejamento, de montagem da estratégia de captação até a venda em si. É um processo que demanda muita análise, mão de obra superespecializada, uma escala produtiva de veículos que justifique, um custo atrativo para o cliente e também viável para a fábrica.

“Praticamente todos os dias lançamos novos itens. É uma cadeia contínua de produção. Quanto mais crescem as famílias de caminhões e suas partes, crescem também em quantidades de itens e volumes os componentes refabricados”, diz Serafim.

Atualmente, a fabricante tem todos os componentes do trem de força. Caixas de câmbio, motores, injetores, turbos e outros. O que a Volvo não faz, encomenda com os fornecedores que produzem e devolvem para a distribuição na rede. Toda a logística é de sua responsabilidade. O atual centro de distribuição já está com a capacidade no limite e vai ganhar outra unidade, também na Grande Curitiba, ainda neste segundo semestre.

Esse serviço é interessante para a companhia, mas para o cliente pode representar uma economia de 30% a 40%. Uma caixa I-shift, por exemplo, um dos itens mais caros de um veículo pesado pode custar em torno de R$ 30 mil, então o impacto é forte. “Não é possível manter um volume alto desse item em estoque no concessionário. Para trocar uma caixa tem que haver um dano grande. Então é vantajoso entregar a caixa danificada na loja e tomar outra remanufaturada à base de troca, com todas as peças novas a um preço razoável. É um bom negócio para ambos os lados e se mantém um giro de estoque”, explica Serafim.

A Volvo não faz uma triagem no ponto de venda, ela aceita no estado que estiver. O segredo da Reman é aproveitar a carcaça e muitos componentes que ainda podem ser reutilizados. Já o dono do caminhão recebe uma refabricada com garantia de 12 meses.

Outra vantagem é o tempo de retorno à operação, podendo variar conforme o local onde o operador esteja. Em geral, em dois dias o veículo está de volta à estrada. No sentido inverso, sem usar o sistema à base de troca, entre desmontar a caixa, avaliar e obter o orçamento pode levar dez dias.

Scania

A Scania não tem dentro da sua estrutura fabril linha para a produção de itens remanufaturados, mas tem fornecedores de peças originais homologados para essa missão. Nesse ano a demanda tem uma curva ascendente e constante, realidade que pode mudar ainda neste segundo semestre com o lançamento de algumas novidades. “Estamos trabalhando em duas frentes para que haja um aumento desses produtos em nosso faturamento: em quantidade de itens e na repaginação de todo o processo de remanufatura visando melhorias e para inserir outras peças que ainda não temos”, confessa Pietro Nistico Neto, gerente de vendas de peças e serviços Scania no Brasil.

O portfólio inclui a família de compressores de ar, embreagens, unidades injetoras, motores de partida e alternadores. São 30 itens no total, resultado do desenvolvimento dos últimos 15 anos. O carro-chefe é formado por embreagens de fornecedores homologados pela Scania ao longo do tempo para aumentar a oferta.

MAN

“Somos novatos ainda. Neste ano o nosso faturamento com esses produtos ficará entre 5% e 10%, mas são itens de alto valor agregado, como caixas de câmbio e motores”, diz Osmany Baptista, gerente executivo de peças e acessórios da MAN. A montadora não tem uma área de produtos reindustrializados em sua estrutura. Ela delega a tarefa para três dos seus fornecedores de originais.

A família de reman da companhia integra motores, câmbios, embreagens e turbos, para caminhões e ônibus. No total são 118 itens. Está em curso o desenvolvimento de bicos injetores. Há em estudo também mais um item, ainda para este ano, na linha de motores. Quase todo o trem de força está atendido, pelo menos, os mais importantes. “Essa decisão exige uma análise precisa de todos os aspectos envolvidos, em especial da logística. Isso leva tempo”, diz Baptista.

Cummins

Para a Cummins a área de remanufaturados não é uma novidade. Segundo Antonio Lourenço, gerente de vendas e peças para a América do Sul, desde 1989 a fabricante trabalha com peças e componentes remanufaturados no Brasil. O serviço foi implantado há muitos anos nos Estados Unidos. Hoje a linha ReCon da Cummins é composta de motores básicos e parciais, injetores, módulos de controle do motor, bomba de combustível de alta pressão e cabeçotes. A gama é oferecida para a toda linha de motores da marca. Segundo Lourenço, o cliente já conhece a velocidade de entrega dos serviços. “O cliente sabe que com o sistema à base de troca em dois dias terá o seu motor operando”.

“Os frotistas começaram a ver as vantagens logo após a implantação dessa opção, mas os autônomos não sabiam fazer essas contas e buscavam por remanufaturados no mercado independente, correndo o risco de ter produtos reformados inadequadamente”, cometa o executivo. Hoje esses itens são encontrados em pelo menos 23 distribuidores e mais 400 concessionárias ligadas à marca por todo o Brasil. Um aspecto importante é que, se o motor está desatualizado, de outra geração, o cliente recebe o motor com a tecnologia atualizada, sem custo adicional. “Estamos na eminência de o motor básico EURO 5 ser lançado neste mês. A Cummins se antecipa, colocando à disposição na rede o modelo novo também, assim os itens que chegarem para a remanufatura serão atualizados”, diz Lourenço.

O motor é para pronta entrega, à base de troca, como parte do pagamento, em dois dias tem termo de garantia. E as novidades que estão na eminência de lançamento, como os motores Euro 2.8 e 3.8 litros, produtos que vão atender a várias linhas de três grandes montadoras. As melhorias também são passadas aos motores remanufaturados, com a garantia de um ano, sem limite para um motor refabricado colocado à disposição para venda na rede. A Cummins Brasil oferece os produtos em sua rede de distribuidores e dispõe de auxílio profissional pelo telefone 0800 286 6467.

Eaton

Fábio Fernandes, gerente de vendas de peças de reposição da Eaton, reconhece a importância do ingresso da empresa no disputado segmento de embreagens remanufaturadas. No mix das vendas de embreagens, a Eaton mantém 25% de participação porque até há pouco tempo não tinha o portfólio completo. Com as caixas de câmbio a fabricante está próxima dos 5%, um segmento ainda mais especializado. “É um mercado muito forte. De tudo  que hoje se vende de embreagens da linha pesada – caminhões e ônibus –, 50% são remanufaturados e a outra metade, originais.

Então, se você não participa desse segmento, participa apenas de metade do mercado”, diz com enfase. Essa emblemática definição fez a Eaton ousar. E a grande novidade é o “All made”, um serviço de reindustrialização, lançado em fevereiro passado, que tem como fundamento recuperar também as embreagens de terceiros. “É um nicho de mercado muito interessante. Vamos aproveitar toda a nossa experiência e reprocessar o produto do concorrente, de qualquer modelo, retirar a marca antiga e colocar a nossa. É uma forma de avançar sobre a outra metade do mercado”, antecipa Fernandes.

Essa forma arrojada de encarar a concorrência no mercado e fidelizar clientes é fruto da maturidade de quem faz isso há 15 anos. A experiência com a remanufatura na Eaton começou em 2007, com a criação de uma estrutura exclusiva para o processo de reindustrialização de produtos e o lançamento do programa ECO Box, a linha reman de caixas de câmbio.

Desde então 8 000 transmissões foram refabricadas. A família reman da Eaton é composta por transmissões, conjuntos de sincronizadores e embreagens para veículos pesados. Os critérios de produção são exatos e possibilitam oferecer peças 40% mais baratas do que as novas com a mesma garantia de qualidade. A fabricante destaca como pontos importantes, o benefício como a redução da frequência de parada para manutenção dos veículos e o menor custo por quilômetro rodado.

Honneywell

A fabricante de turbocompressores Honeywell está finalizando uma reforma na planta de Jundiaí, SP, para ter uma linha reman exclusiva, numa área de 5 000 m². A operação inicial contará com oito diferentes modelos de turbos remanufaturados, em colaboração com Volkswagen Caminhões, Mercedes-Benz, Scania e Volvo.

Segundo Christian Streck, diretor-geral Honeywell, a frota nacional está envelhecendo, então uma boa alternativa para revigorar esses veículos é colocar turbos remanufaturados à disposição que atendam aos requisitos de sistema de gerenciamento do motor por meio dos seus processos originais de montagem, calibragem e teste. A complexidade dos turbos Garrett envolve velocidades rotacionais acima de 200 000 rpm.  Essa tecnologia com otimização altamente precisa, exige tolerância de componentes que podem ser inferiores a 4 mícrons – o calibre de um fio de cabelo humano.

Fonte: Motorpress transporte

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